sábado, 22 de janeiro de 2011

MITOS DE NZAZI


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MITOS DE NZAZI 
A  DISPUTA ENTRE NZAZI E O ARCO-IRIS

L’arc-em-ciel et La foudre – pág. 57/58 M3 – Yombe
A disputa entre Nzazi e o Arco-Iris
Mito dos Yombes
Tradução livre do Prof. Dr. Sérgio Paulo Adolfo
Heusch, Lui de. Lê Roi Ivre ou L’origine de l’etat. 

Lês essais CLXXIII, Gallimard, 1972


Um dia, Mbumba, o arco-íris, deixa sua caverna na beira da

 água e sobe ao céu, onde vive Nzazi, o raio. Juntos constroem
 uma cidade e Nzazi que é o chefe do céu, propôs confiar a chefia
 da cidade a Mbumba, mas este não aceitou e volta à terra. Aqui
 chegando, se joga na água, mas duas mulheres que estavam no 
rio pescando, haviam fechado a caverna que servia de morada para
 Mbumba. Mbumba fica muito bravo, e as mulheres tentam matá-lo,
 mas na disputa ele arranca o dedo de uma e assombra a outra em
 forma de uma serpente que deixara a água vermelha, fazendo com
 isso que todas as mulheres se evadissem do local. Após isso, 
Mbumba volta para o céu e lá chegando, percebe que Nzazi teria 
vindo pra terra a fim de matar seis homens. Nzazi não demora a 
voltar e quando retorna saúda Mbumba com um ar zombeteiro. 
Mbumba reconhece que Nzazi é o dono do céu e lhe oferece um
 escravo, mas ajuíza que se Nzazi matá-lo haverá uma grande 
chuva torrencial. Nzazi não leva a sério as palavras de Mbumba
 e esbofeteia o escravo que se põe a chorar.
Mbumba retorna à terra e procura seu amigo Phulu Bunzi que é
 o Senhor da água. Ele pede a Phulu Bunzi que mate Nzazi. 
Phulu Bunzi então sai da água com um grande aparato real
 e convoca Nzazi para um procedimento mágico. Desde que 
Phulu Bunzi saiu da água a terra inundou-se. Phulu Bunzi então
 estabelece uma disputa com o arco-íris e conclui um pacto de
 amizade com Nzazi que volta para o céu.
Após isto feito, Phulu Bunzi espera o Arco-Íris em sua cidade

 e se despede do mesmo num dia de muita chuva, e ao 
mergulhar no rio, que é sua casa, percebe que seu filho está 
morto, mas o Arco-Iris diz a ele que, se o mesmo render-se a
 ele e lhe pagar uma reparação, o menino se salvará.. Phulu
 Bunzi não tendo como cumprir a exigência, decepa a cabeça
 de Mbumba, o Arco-Íris, e manda enterrar seu corpo 
próximo a paliçada e espetar sua cabeça sangrenta no mastro mais alto.
Comentário...
Este mito realça o caráter irrascível de Nzazi, pois sendo
 ele o próprio raio é um elemento altamente temido entre 
os povos tradicionais, que viviam sem proteção contra 
os fenômenos atmosféricos. Além disso, ele é considerado 
em África o justiceiro, porque acreditam que quando uma 
casa é atingida por uma descarga elétrica, é porque o dono
 da casa cometeu alguma falha contra a comunidade.
 Mas por outro lado, o raio é prenúncio de chuva, esta sim 
sempre bem vinda entre os povos agricultores que 
dependem dela para a própria sobrevivência. Vemos neste 
mito, um pacto celebrado entre a chuva, o raio e as águas 
de Phulu Bunzi. Mbumba, o arco íris é morto, sinal de que 
as chuvas vão parar e sua cabeça sangrenta é espetada 
numa paliçada, símbolo das cores do arco-íris. Entre o 
raio –Nzazi – e o arco-íris – Mbumba – há sempre rivalidade,
 porque onde um está o outro não aparece.
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A LUTA ENTRE A MORTE E RAIO
 LE COMBAT DE MORT ET DE FOUDRE
A LUTA ENTRE A MORTE E O RAIO (NZAZI)
Tradução livre do Prof. Dr. Sérgio Paulo Adolfo
Heusch de Luc. Róis nés d’um coeur de vache. 

Lês essais CLXXIII, Gallimard, 1972
A mãe do Raio estava cozinhando feijão quando a
 Morte apareceu e chamou-a ao que ela respondeu
 prontamente. A Morte então defeca sobre uma roca
 e a obriga a comer tudo e proíbe-a de contar aos
 outros o acontecido. O Raio, entretanto, prevenido
 do acontecido, se esconde para surpreender a morte 
na sua próxima visita. Quando a Morte apareceu 
novamente, o Raio bateu nela muito forte, mas não 
acertou e infelizmente o golpe mal dado acertou sua 
mãe, matando-a. Em seguida, a Morte foge para uma 
caverna que o Raio conhecia muito bem. Lá chegando, 
o Raio preparou-se para dar o golpe fatal, mas foi
 impedido por um jato de urina no olho dado por um 
mergulhão, um animal que ficou raivoso pelo clarão 
dos golpes do Raio. A Morte escapa novamente e o 
Raio volta para o céu, deixando a Morte exercer seu 
trabalho livremente na terra. A raiva do Raio em 
relação ao mergulhão é eterna, mas este não precisa 
se preocupar em refugiar-se nos dias de tempestade, 
pois o Raio não chega até as cavernas ou próximo das
 árvores onde ele vive.
Comentário...
Neste mito o raio trava uma batalha de morte com 
a própria morte, mas nenhum dos dois sai vencedor 
numa clara alusão que os elementos da natureza têm
 seu próprio percurso e um depende do outro para a 
sobrevivência de ambos. O Raio, sempre perigoso
 mata a própria mãe sem querer e só não mata a
 morte porque esta se esconde numa caverna, 
local inacessível para o raio. No final da narrativa, 
o Raio volta para o céu, lugar em que vive e que
 não provoca estragos e a morte continua seu caminho.
 Quanto ao mergulhão, o animal que salvou a morte
 do raio continua eternamente inimigo deste e sempre
 que há clarão de raio esconde-se nas cavernas ou
 próximo das árvores onde o raio não alcança.
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Não somos Xenófobos...

Orisá Aganjú


Os mitos o descrevem como “O Gigante entre os Òrìsà. Seria filho de Oro Iná. Divindade, que em algumas regiões, é considerada como uma divindade masculina e em outras, como feminina, e que habita as câmaras de magmas, situadas no interior da crosta terrestre.

Os antigos o descrevem como “O Temível entre todos”.

Divindade de caráter forte, tempestuoso, colérico e belicoso.

As forças da natureza que lhe pertencem são representações de sua tremenda energia, como a potência dos rios que divide territórios, a lava vulcânica que percorre a crosta terrestre, os terremotos e o impulso que faz a Terra girar em torno de seu eixo.

Recebe o título de Òkèrè ao tornar-se esposo de Yemoja.

Aganjú representa os raios solares, Olókun as águas salgadas e Olósa as águas doces, celebram um pacto entre eles, em manter o equilíbrio da atmosfera do planeta, afim de que seja possível o ciclo vital de todos os seres.

Aganjú foi o quarto Aláàfin Óyó, embora existam mitos que o descreve, tendo reinado em Sakí, cidade vizinha de Ìséyìn, noroeste de Òyó.

O reinado de Aganjú foi longo e próspero. Tinha o dom de domar animais selvagens e serpentes venenosas.

Dentro de seu palácio, mantinha um Ekún – Leopardo, seu animal de estimação, sobretudo um símbolo de coragem, que costumava encostar seus pés, como se fosse uma esteira, daí recebendo o epíteto de Ekùn Olóju Iná – Leopardo dos olhos de fogo e Ekún f'eninjú tànná – Leopardo de olhos fulgurantes.


Aganjú é o símbolo de todas as forças terrestres, principalmente o núcleo da terra, o deserto e o vulcão. Ele representa uma força brutal e regeneradora, que é responsável por todas as turbulências cataclísmicas que muda a face da terra. A Lava vulcânica é vista como seu hálito de fogo e seu poder faz a terra girar sobre seu eixo. 

E DE NOVO...

COMO DEVE SE COMPORTAR UM FILHO DE ORISA DENTRO E FORA DA CASA DE SANTO.
  1. AO ENTRAR DESPACHAR A PORTA E AO SAIR TAMBÉM.
  2.  FICAR SENTADO ESFRIANDO O CORPO (SENTADO OU NO FUNDO DO BARRACÃO CASO SE ESTEJA FAZENDO ALGUM RITUAL DENTRO DO BARRACÃO OU NA COZINHA)
  3.  BEBER ÁGUA, TOMAR BANHO, COLOCAR ROUPA DE RAÇÃO OU PANO DA COSTA,BATER CABEÇA NO ÀSE DA CASA(QUARTOS DE SANTO) DEPOIS A NENGWA, A NENGWA NDENGE (MÃE PEQUENA),AO TATA NDENGE (PAI PEQUENO), TROCAR A BENÇAO COM OS IRMÃOS MAIS VELHOS E AOS MAIS NOVOS.
  4.  SE FOR CUIDAR DOS SEUS YGBAS,TOMAR BANHO DE ÀSE E COLOCAR ROUPA DE RAÇÃO (GUARDAR TUDO QUE USAR TAIS COMO BALDE E CABAÇA).E SECAR O BANHEIRO.
  5.  BATER CABEÇA AO YGBA DO NKISE DONO DA CASA ANTES DO SEU.
  6.  LEMBRE-SE AO ENTRAR SE TOMA A BENÇÃO E AO SAIR TAMBÉM.
  7.  NUNCA FALE EM PÉ QUANDO SUA NENGWA OU OS QUE TÊM CARGO QUANDO ESTES ESTIVEREM SENTADOS.
  8.  NUNCA COLOQUE A MÃO NA CINTURA.
  9.  NUNCA FALE PALAVRÕES.
  10.  NUNCA DEIXE SUJO O QUE ESTAVA LIMPO OU DEIXE SUJO O QUE VC PODE LIMPAR.
  11.  NUNCA DEIXAR BEBIDAS VELHAS, CARREGOS DETERIORADOS, EMBALAGEM DE VELAS OU PALITOS DE FOSFOROS RISCADOS (TUDO DEVE SER JOGADO EM SEUS DEVIDOS LUGARES)
  12. CADA UM COM SUA ROUPA DE RAÇÃO OU DE CANDOMBLÉ,TOALHA E SABONETE (VC DEVE TER O QUE É SEU, SE NÃO TEM, PROVIDENCIE! TENHA RESPONSABILIDADE!)
  13. TEM FUNÇÃO PRÉ-DETERMINADA CUMPRA PARA NÃO SER CHAMADO A ATENÇÃO.
  14.  A NENGWA (MÃE) DEVE SER CHAMADA COMO TAL, ASSIM COMO OS DEMAIS CARGOS.
  15. AS CADEIRAS DE ÀSE SÃO PARA OS QUE TÊM CARGO (ALGUMAS SÃO INDIVIDUAIS OU SEJA COMERAM NO CARREGO DA PESSOA).
  16. NUNCA SENTAR NA ASSISTÊNCIA SE TIVER COM ROUPAS DE ÀSE.
  17. NUNCA FUME NA FRENTE DA MÃE DE SANTO OU DOS QUE TEM CARGO.
  18. RESPEITE PARA SER RESPEITADO, SEJA EDUCADO COM TODOS INCLUSIVE COM CLIENTES E ASSOCIADOS.
  19. USOU ALGO DA CASA, REPONHA, LIMPE, LAVE, GUARDE MAS NUNCA SE ESQUEÇA DE PEDIR.
  20. QUEBROU ALGO, ASSUMA,COMPRE E DEVOLVA.
  21. DESEJA CONSELHO OU AJUDA PEÇA COM HUMILDADE E EM PARTICULAR.
  22. TEM DÚVIDA, PERGUNTE AOS MAIS VELHOS PRINCIPALMENTE A NENGWA.
  23. PRECISA DE ALGO OU AJUDA PARA ALGUMA TAREFA PEÇA MAS SEMPRE SEGUIDA DE UM POR FAVOR E NUNCA ESQUEÇA DE DIZER OBRIGADO(A) EM SEU DIALETO.
  24. AS “BAIXAS” DEVEM SER DITAS QUANDO NECESSÁRIO MAS SE POSSÍVEL EM PARTICULAR. (TOME COMO ENSINAMENTO E NÃO COMO UMA AGRESSÃO)
  25. SUA CONDUTA FORA DA CASA DE SANTO PODE REFLETIR NA CASA DE ÀSE POR TANTO SEJA UM FILHO DE NKISE E NÃO O OPOSTO.
  26. PRIMEIRO O SEU NKISE DEPOIS VC.(POIS ELES RECEBEM DEPOIS NOS DEVOLVEM)
  27. CUMPRA OS PRECEITOS A RISCA E SE FALHAR SEU NKISE PODE SE QUIZILAR OU ATÉ LHE VIRAR AS COSTAS.
  28. A CASA DE SANTO DEVE SER RESPEITADA, AMADA, CUIDADA, CONSERVADA, AJUDADA POIS É O LOCAL QUE SEUS ORISAS ESTÃO.
  29. CUMPRIR OS HORARIOS DETERMINADOS.
  30. TER PRESSA EM CHEGAR A SUA CASA DE SANTO E NÃO PARA IR EMBORA.
  31. ESTEJA SEMPRE PRONTO A ATENDER AOS BAKISE E SUA NENGWA,POIS OS MESMOS ESTÃO PRONTOS PARA VC.
  32. TER CUIDADO AO ACENDER VELAS OU CIGARROS (FOGO É PERIGOSO)
  33. NÃO TENHA VERGONHA DE SUA FÉ,TENHA VERGONHA DE NÃO SER DIGNO DE TER O AMOR DOS ORISAS,DEMONSTRE A TODOS O QUE É SUA RELIGIÃO E O QUE ELA TRAZ DE POSITIVO EM SUA VIDA.

Religiões em Angola

As religiões em Angola

Américo Kwononoca

A introdução da doutrina cristã no que é o actual espaço que se chama Angola, teve início com a «evangelização sistemática a partir de 1490, quando os missionários católicos chegaram às "novas terras" e baptizaram sucessivamente o governador do Soyo, em Abril de 1491 e Nzinga Nkhuvu, rei do Congo, em Maio desse mesmo ano». 1 A implantação da Igreja Católica nas áreas do Congo do Ndongo e Matamba
estendeu-se ao extremo leste, nordeste e sudeste até ao século XX. A igreja cristã terá iniciado a sua actividade em Angola na década de 1850, com maior incidência na parte norte e centro. Tanto a igreja católica como a protestante comportam várias denominações e congregações.
A partir do ano de 1980, assistiu-se a entrada em Angola de expatriados de várias nacionalidades oriundos sobretudo da África Ocidental, região de populações maioritariamente muçulmanos (aderentes da religião Islâmica).
Como consequência, deu a implantação dessa religião primeiro em Lunada, estendendo-se actualmente a todo País.
Assim, em Angola regista-se actualmente a presença das religiões cristãs (Católicos e Protestantes) e Islâmica como universais.
O aparecimento de uma variedade de organizações religiosas esteve na base de diferentes interpretações dos textos bíblicos. Assistiu-se ao surgimento do movimento dos antonianos em Mbanza Congo e, mais tarde, como consequência lógica, ao tokoismo no século XX, uma das mais importantes igrejas nacionais, fundada pelo Simão Gonçalves Toko.
Uma outra religião sincrética que tem emergido e encontrado um lugar de destaque na sociedade angolana é o Kimbanguismo.
Decorrente desse fenómeno, verifica-se hoje uma grande proliferação de organizações religiosas que podem ser classificadas em: a) igrejas espiritualistas, b) igrejas dissidentes da doutrina cristã e c) igrejas não cristãs.
Algumas dessas igrejas, surgiram como resposta a situação colonial tendo durante esse período, sobrevivido na clandestinidade, enquanto que outras foram introduzidas pelas comunidades angolanas que a partir de 1974 regressaram ao país.
2  É o monoteísmo actualmente predominante que justifica a crença na existência de um Ser Poderoso e Supremo designado Nzambi (entre Bakongo, Tucokwê e ambundu), Klunga (entre os Ngangela, Kwanyama, Axindonga e Helelo), e Suku ( entre os ovimbundu e Nyaneka Khumbi). Essa entidade suprema considerada como criadora e supervisora do universo, é coadjuvada, segundo os povos bantu, por outros deuses menores mas também poderosos, através dos quais de chega a ela. É o caso dos deuses da fecundidade, da caça, das chuvas, da sorte, da protecção, do gado, entre outros.
Para os Kung denominados pejorativamente pelos seus vizinhos de kamusekele (apreciadores da carne de porco espinho) ou Mukwankhala (comedores de caranguejos) e pelos europeus de bushman/bosquimanos, esse ser Supremo é conhecido como N!dii que significa céu nas línguas de kalahari central, Ndali ou Hishe. Acreditam ter sido afecto significativamente a sua actividade diária, apesar de intervir e ser invocado nos momentos de infortúnio, seca ou outras calamidades.
Os povos bantu crêem na existência de dois mundos, nomeadamente o visível, cujo relacionamento e contacto se efectuam através de rituais, preces e outras cerimónias dedicadas aos antepassados, por intermédio da invocação das forças dos espíritos que coabitam com os homens. Este facto é indicador de uma subordinação ou dependência total dos vivos em relação os espíritos ancestrais.
A inacessibilidade dessa entidade suprema é ultrapassada através do culto aos antepassados, que intercedem junto de Nzambi, Kalunga ou Suku que está no topo das alturas, para que haja chuva, caça, protecção, fecundidade, fertilidade ou punição para os transgressores.
O fundamento da ancestrologia enquanto ramo de antropologia que se ocupa do estudo dos cultos e preces dedicados aos antepassados, tem essa dimensão cultural consubstanciada na interacção entre viventes e antepassados. De recordar que em geral, os bantu na sua idiossincrasia acreditam que as pessoas não morrem mas que transladam deste mundo para o outro com uma dimensão transcendental, onde usufruem das mesmas benesses como comida, roupa entre outras regalias que tinham antes da "mudanças". Este facto determina a realização de cerimónia de ofertas de bens e de veneração aos defuntos.
Regra geral, nas comunidades rurais, antes de se beber qualquer líquido entorna-se um pouco no chão como expressão de gratidão aos defuntos.
Entre os Bakongo e os Tucokue, as cerimónias presididas por entidades tradicionais eleita e reconhecida pelo povo (e sobretudo pelos anciãos), é comum "dar-se de beber primeiro aos antepassados através da aspersão da bebida a partir da boca para a área da cerimónia. Os Bakongos fazem também o nkunda ou três salvas de palma para pedir aos antepassados a autorização para qualquer evento. Em Mbanza Kongo, o sacerdote, profere as seguintes palavras dirigidas aos ankhulu (ancestrais) «Todos os Bakongo vieram daqui, porque deixaste algo importante. Estamos aqui perante entidades para pedir que a festa se realize na tranquilidade dos Nkhulu e não haja incidentes.
Por isso trouxemos maruvu para vos oferecer».
A veneração dos espíritos dos antepassados, expressa nos cultos ritos e nas ofertas feitas pelos vivos, constitui, segundo a tradição, um requisito para a harmonização equilíbrio e tranquilidade comunitários. Caso contrário, a infertilidade a mortandade, as doenças e outros infortúnios que ocorrem na comunidade serão atribuídos aos antepassados como punição pela desobediência.
É justamente por isso, na maioria das comunidades rurais, se acredita que não há doença ou morte que não tenha como causadores, os antepassados "desprezados e não venerados, os quais através dos feiticeiros" 4 tidos como seus emissores, sancionam ou punem os transgressores.
Porém as pessoas têm o direito de consultar os adivinhos para descobrir as causas dos infortúnios para o efeito essa entidades de dimensão sócio-religiosa não comum, manuseia os objectos que se guardam num cesto (os tucokwe designam-no ngombo ya cisuka) fazendo preces aos espíritos ancestrais para darem resposta ao consultante assim este é orientado no sentido de juntar uma série de bens para ser tratado pelo Kimbanda 5. Nos casos das chamadas "doenças espirituais como por exemplo, as pessoas possuídas, mahamba (espíritos dos antepassados cokwe), ou kalundu (espíritos dos antepassados Ambundu), a resposta dos adivinhos tem sido quase a mesma: "os teus antepassados encarnaram em ti para satisfazeres os teus desejos e as tuas falas inconscientes e todas manifestações que decorrem da tua doença é uma emanação deles" 6. Entre essas comunidades históricas (cokwe e Kimbundu), o kimbanda realiza um conjunto de tratamentos com preces ao som de música para afugentar os mahamba ou os kalundú. Neste acto, a pessoa possuída entra em transe (xinguilamento) até ser "liberta", mas devendo continuar a manter um série de obrigações, que entre as quais as ofertas de comida, bebidas e outros bens aos defuntos, num altar montado com figurinhas que representam os antepassados diariamente invocados e venerados.
As cerimónias de raiz tradicional, como componentes da vida sócio-económicas
e cultural, integram e consolidam as instituições e eventos tidos como sagrados. Nas zonas onde a actividade principal é a agricultura, cerimónias rituais são realizadas aquando das primeiras chuvas e nas primeiras colheitas; se for uma sociedade de caçadores, o espírito do animal representa e integra a cerimónia dos caçadores que pode ocorrer na primeira caça dos iniciados ou nas grandes caçadas colectivas, sobretudo entre os Tucokue e os Ngangela.
Na zona piscatória da Ilha de Luanda, a cerimónia da Kyanda, considerada como a padroeira do mar ou "Espírito do Mar", envolve não só a comunidade que se dedica a essa actividade, mas também outras individualidades. Os anciões e um grupo de mulheres vestidas à "besangana" de cor vermelha, vão à beira-mar levando consigo bebidas, alimentos, flores e dinheiro para atirarem ao mar como reconhecimento da prosperidade comunitária a ela devida, e também como uma petição para que as kalemas (ondas altas) não invadam e destruam os bens da comunidade. Em torno desse ritual, crê-se que a bebida serve para embriagar a Kyanda a qual quando estiver sob efeitos etílicos, dormirá profundamente originando a acalmia das ondas e a aproximação do peixe à superfície.
Entre os Nyaneka Humbi, a tradição é praticada e transmitida através de uma instituição conhecida como "Boi Sagrado" realizado anualmente a qual conclui o "cortejo do boi", e é tida como reminiscência dos antigos criadores e pastores. A finalidade desse ritual é inovar os espíritos desses antepassados para proporcionarem a prosperidade e a protecção do gado. Para esse grupo etnolinguístico, os rituais e as crenças em torno da fecundidade têm lugar com a confecção da kikondi (boneca de fibras vegetais) que são
entregues às raparigas casadoiras (logo que apresentam o primeiro fluxo menstrual) as quais as guardarão até gerarem o primeiro filho. Segundo a tradição, a procriação depende em geral desse amuleto, sem o qual a continuidade da vida seria impossível.
A autoridade máxima Nyaneka Humbi é o Ohamba a quem são atribuídos poderes extra humanos. Antes do início das chuvas ele vai junto de uma perda sagrada e anuncia o Ongonjdi (proibição do cultivo da terra depois da primeira chuva, tida como sagrada) à população. Em seguida, o Ohamba realiza um ritual que consiste em mandar cair a chuva, travar ou controlar outros fenómenos atmosféricos. Este ritual é conhecido entre os Mungambwe, sob grupo Nhaneka Humbi, como opululo".