quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Festa de Iemanjá ou Kiandás???? A origem do 02 de fevereiro!

“No conjunto das manifestações de crença, registra-se em Angola a veneração ou culto dos sirêncios, dando origem, entre os pescadores de Luanda, conforme já se indicou, ao culto da Quianda ou Sereia, entidade espiritual habitante das águas do mar, das lagoas, rios e fontes. A Quianda revela-se sob as formas de semigente ou semipeixe, e ainda sob outros aspectos. Afirma-se que habitou em tempos a ilha de Luanda, e aí lhe eram prestadas cerimônias ritualísticas, periódicas com a presença do Quimbanda, intérprete do sentir da Sereia, existindo casa própria para o culto, designada dilombo.”
“Organizavam-se banquetes em homenagem à Sereia, com louças, vinhos e iguarias européias juntas às africanas, a par de outras ofertas”. Vinho doce e pentes de pentear, eram da regra, expressando uma idéias feminina atribuída àquele ser. “A mesa era posta na praia, sobre esteiras de luando (Papyrus), e repetidos toques de tambor anunciavam à Sereia homenageado e seu séquito que o banquete estava servido”.
“Durante 15 dias a um mês estas festividades, e nenhum pescador entrava no mar durante este período de tempo.”
No Brasil há muitas mães-d'água ligadas aos candomblés e a elas é dedicada uma festa anual, a festa das Yabás. Nossa hipótese, já levantada também por Nei Lopes (1988) é que a Yemanjá brasileira, supostamente de origem nagô nasce e sobrevive sob o signo das Kiandás banto. As características desse orixá, assim como as cerimônias que lhe são dedicadas aproximam-o muito mais das raízes banto que das raízes sudanesas.
Na verdade, o Candomblé brasileiro não é uma mera transposição da África para o Brasil, como chegou a pensar Roger Bastide, mas uma criação brasileira, e como criação brasileira, em sua formação entraram as mais variadas contribuições. Falar em pureza de rituais com base nas religiões africanas ou buscar as semelhanças entre Brasil e África é menosprezar a capacidade de criatividade do africano em solo brasileiro. Nas condições adversas em que surgiu o Candomblé, nas condições históricas em que ele plasmou-se, não se pode desprezar a contribuição de outros povos. Desde Nina Rodrigues, inaugurador do nagocentrismo, nossos estudos tem de certa maneira batido na mesma tecla. Talvez seja o momento de iniciarmos, com perseverança, estudos sobre os outros povos de origem africana no Brasil. O descaso com que os intelectuais têm tratado os povos de origem Banto tem feito que muitas das tradições desses povos desapareçam no Brasil sem que nenhum registro e discussão tenham sido feito. Na esfera da religião, com exceção de algumas excelentes pesquisas sobre os Gege do Maranhão, todos os trabalhos têm sido elaborados com base nos casas de culto de origem sudanesa. No entanto, as casas de origem Congo-Angola estão aí e merecem a atenção dos estudiosos, pois tanto quanto as casas nagô, elas fazem parte e enriquecem o arcabouço cultural brasileiro. Os bantu, no Brasil, têm um papel preponderante na formação da nacionalidade brasileira, e, nesse sentido, muitos estudos têm sido elaborados, tocantes, principalmente, à linguagem, às contribuições lingüísticas ao português brasileiro, sobretudo as advindas do Kimbundo e do Kikongo. Quanto aos estudos sobre as contribuições na área da cultura popular, caso das congadas, dos reisados e da capoeira de angola, observa-se que, além das pesquisas já concluídas, há vários estudiosos empenhados em desenvolvê-las. No entanto, na área das religiões de matriz bantu no Brasil, existe uma enorme carência de estudos, pois muito pouco ou quase nada tem sido feito desde que nossos pioneiros na pesquisa do africano e nas suas manifestações simbólicas afirmaram não encontrar elementos de peso da cultura bantu no Brasil. Desde tal acontecimento, a atenção dos estudiosos passou a ser voltada para os sudaneses, criando, com isso, a temática do nagocentrismo que muito prejuízo tem causado, já que reforça a idéia lançada por Nina Rodrigues e acalentada por Edison Carneiro e Arthur Ramos de que os bantu eram possuidores de uma mítica paupérrima, com ausência total de mitos cosmogônicos e fundadores, razão por que teriam se apoderado da mítica e dos rituais nagô. Em decorrência da falta de estudos mais aprofundados sobre o tema, a tarefa de compreender a mítica bantu no Brasil, infelizmente, tornou-se quase impossível.

Nei Lopes (1988) de José Redinha (l975: 386) sobre o culto às
Kiandás angolanas.
Fonte: http://www.ritosdeangola.com.br/page.php?206.3

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