quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Política pública garante reforma em 53 terreiros

Quando começar a festa para o inquice Tempo, no terreiro Mansu Dandalungua Cocuazenza, nesta segunda, 10, em Cajazeiras, entre os agradecimentos da comunidade estará o de mais uma batalha vencida. O Mansu Dandalungua está na lista dos 53 terreiros que passarão por reforma, fruto de um projeto do governo estadual. O custo total da iniciativa é de R$ 2,5 milhões, e é a primeira vez que uma ação do poder público envolve tantos terreiros ao mesmo tempo na Bahia.

No Mansu, localizado na região da Estrada Velha do Aeroporto, as obras serão para reforma de quartos sagrados, sanando rachaduras e construindo um acesso para o barracão, local onde acontecem as festas públicas. “Esta ajuda é muito bem-vinda”, comemora a nengua de inquice Noélia Nascimento, mais conhecida por seu nome sagrado (dijina) Nengua Talaké. A religiosa é a responsável pelo comando do terreiro.

Segundo o tata – título do candomblé angola semelhante ao de ogã (sacerdote sem transe) na tradição ketu – Ailton Mendes Costa (Tata Kuinkebu), a ação vem auxiliar um sistema de solidariedade da comunidade. “Aqui, quando precisa de uma obra, a gente vai se cotizando. Quem não pode contribui com o trabalho. Imagine o sufoco, pois a gente ainda tem custos de celebrações, dentre outros”, enumera Tata Kuinkebu.

Convênio – As ações vão acontecer por meio de um convênio, firmado entre a Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (Acabantu) e a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano (Sedur). “Escolhemos a Acbantu porque se as obras vão acontecer em espaço sagrado, e é bom que sejam acompanhadas por uma associação comprometida com a questão, até para evitar problemas de desrespeito, mesmo que não sejam intencionais”, disse o secretário de Desenvolvimento Urbano, Afonso Florence.

A primeira parcela do convênio, no valor de R$ 279 mil, já foi depositada na conta da Acbantu. A expectativa é que as obras comecem ainda este mês. “Estamos finalizando a parte de exigências legais para começar”, disse o tata Raimundo Konmmananjy, presidente da Acbantu.

Critérios – A escolha dos terreiros que estão recebendo o benefício levou em consideração o estado em que se encontrava a estrutura física dos templos, como telhados, quarto de santos, dentre outros espaços. As casas escolhidas estão localizados em áreas variadas da cidade e englobam tanto terreiros mais conhecidos, como Casa Branca, Gantois e Ilê Axé Opô Afonjá, até outros menores.

“Creio que esta é uma grande vitória do povo-de-santo, que tem mostrado uma capacidade de organização”, destaca Anselmo dos Santos, tata de inquice (título do sacerdote que ocupa o mais alto posto de um terreiro angola), do Mokambo, situado no Trobogy, que faz parte da lista dos contemplados.

No Mokambo, as obras serão para reparar rachaduras de parede, dentre outras. Em todos os terreiros, foi feito um laudo técnico, relacionando os danos que devem ser reparados, bem como seus custos. No Terreiro Oxumarê, situado no bairro da Federação, será feita a reforma do telhado, entre outros serviços. “É uma ação positiva, afinal, muitas vezes, prestamos serviços nas comunidades onde ficam nossos terreiros, que seriam papel do Estado”, diz o babalorixá (o que ocupa o maior posto) da Casa, Silvanilton da Mata.

Fonte: Jornal "A Tarde"