segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Os Bantu e a Vida

Uafuza Kuiza (O vai e vem da morte)
Para o povo Bantu a alma faz dupla com o corpo. E um ser com inteligencia (kilunji) que encarna no corpo (ku mukutu).
O corpo nasce, morre e apodrece, enquanto a inteligencia deixa o corpo no momento de expirar. Enquanto jungida ao corpo, o halito e quente (muikua)e ela e o proprio halito.

O muikua ao deixar o corpo, vai direto para o criador que esta na SANZALA KASEMBE DIA NZAMBI (Aldeia ou Reino Encantado de Deus).
Tratando-se de muikua de crianca, este sera devolvido por NZAMBI, porque para os Bantu, somente reencarnam espiritos infantis e em pessoas da familia.
As criancas quando morrem sao enterradas com a face voltada para o Oriente, para que o sol, que todos os dias nasce, traga seu espirito o mais rapido possivel, o que nao acontece com os adultos, porque sao enterrados com a face para o poente (reino dos mortos), para que cheguem mais rapido a SANZALA KASEMBE DIA NZAMBI, onde sao recebidos pelo criador.
So ficam na Sanzala Kasembe Dia Nzambi os que tem bom coracao (muxima puena), seja qual for a sua condicao.
Nao entram na Sanzala Kasembe Dia Nzambi os que tem mau coracao (muxima uaiba). Ex.: suicidas, assassinos, etc. Eles serao devolvidos e transformados em espiritos malignos. Alguns serao condenados, uma vez nascidos, a reencarnar em qualquer animal irracional. Alguns nao se conformam e ingressam na sociedade (DIANDA) de UAFU ZA-KUIZA.
Nesta sociedade os Uafu za-kuiza ou UFUNJE fazem um pacto com MULUNJI MUJIMU (ventre ruim) de provocarem a morte das criancas em que encarnarem, ou seja, provocando seus proprios abortos, transformando o ventre dessas mulheres em ventre ruim.
 Esses espiritos escondem-se em buracos nos troncos das arvores ( tocas - MPAKU), e quando uma mulher em fase de menstruacao passa eles se infiltram no utero, e no momento da fecundacao alojam-se no embriao.
Depois de muitos abortos o casal procura o 'NGANGA A NGOMBO' (adivinhador), que descobre a presenca de Uafu za-kuiza e encaminha a mulher para o KIMBANDA (feiticeiro), especialista no MUSAXi, culto especifico a Uafu za-kuiza.
Para garantir o nascimento o KIMBANDA MUSAXI e o NGANGA NGOMBO conseguem a concordancia do espirito em nascer e continuar vivendo, e atraves de rituais descobre o dia certo em que ele iria morrer, dando-lhe um nome sugestivo e de permanencia na Terra. Um nome que seja a negacao da morte, que e a principal quebra desta KIJILA (abstencao), criando um novo pacto, e cortando a ligacao com MULUNJI MUJIMU.
O pacto criado e para dar forca ao espirito. Quando encarnado ele nascera como qualquer crianca e vivera o periodo normal.
Perto dos pes da cama onde a mulher dorme sera assentado um NKISI TUHEMBA (Nkisi Ancestral), de aproximadamente 20cm. Esta divindade (HAMBA) pertencera e sera herdada pela familia, principalmente pela pessoa que nasceu Uafu Za-Kuiza.
Durante todo o tempo da gravidez a mulher tera amarrado ao corpo um NGOMBO e outras pecas, e tambem um pequeno sino de nome KAGUNGA, no lado esquerdo. Tomara muitos banhos na barriga e no corpo, pemba e MUKUNDU (pos sagrados).

Ao nascer coloca-se sinos amarrados com pele nos tornozelos, e e feita uma infusao no seu corpo, introduzindo MAFU (po sagrado) e colocando este mesmo po dentro do KAPURI, que sera colocado no pescoco da crianca e usado ate a idade em que possa entender as pessoas, ate nascer outro irmao.
Este espirito que no passado nao chegou a NZAMBI, tera nova chance de ser eleito, de merecer, ou entao estara perdido, voltara a encarnar em animais ou sera devorado por MUJIMU, que certamente cobrara o pacto nao cumprido.
Para isso se faz 4 encantos, que sao o EBULIN,IMBUIN,ISSASSERIN,APAN.
Por Tata Katuvanjesi

domingo, 23 de janeiro de 2011

Reflexões sobre a Kukuana -

UM PENSAMENTO, UM CÂNTICO.



A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os seres humanos.
O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.
O milho somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre. Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice, uma dureza assombrosas. Só elas não percebem.
Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos - Dor.
Pode ser o fogo de fora: perder um amor, um filho, um amigo ou o emprego.
Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, doenças e sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio, uma maneira de apagar o fogo.
Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pipoca dentro da panela, ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não consegue imaginar destino diferente.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: BUM!
E ela aparece completamente diferente, como nunca havia sonhado.
Iperuá é o milho que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste.
Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém.
Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os iperuás que não servem para nada.
Seu destino é o lixo.
E você, o que é?
Uma pipoca estourada ou um iperuá?
(Rubem Braga)
CANTIGA PARA KAVUNGO E KAFUNDEJI
(Cantada desta forma pelo ancestre Rufino do Beiru Do Bengê de Massanganga do Kariolé, Mariquinha Lembá, Ngola djanga, Goméia e etc).)
Iperuá, Iperuá yayá
Iperuá Kibuko okê malembê
Iperuá Mam'etu, Iperuá Tat'etu
Iperuá Kibuko okê malembê!
Onde: Iperuá seria o milho de pipoca ,
Kibuko Sorte e
Malembe (Pedido de:Segredo, Defesa, Licença, Socorro, Permissão) aos Mukixi ou Inkices Kaviungo e Kafundeji para se transformarem de iperuá (milho duro) em flores brancas e macias (pipoca)símbolo de vitória,cura, sorte e felicidade.
Iperuá é também o nome dado a primeira saída da Kukuana onde Kavungo e Kafundeji distribuem pipocas aos presentes para que esses passem por todo corpo,para que nunca sejem iperuá em vida, e depositem num balaio apropriado para receber o carrego. Completando o ato com as Matambas que carregam em cada uma das mãos um maço de ensabas apropriadas para completar a limpeza os presentes.
Moral da história:
Num País como Angola, de inúmeras Nações que por sua vez se subdividem em várias etnias ou sub grupos (tribos) cada um com seu dialeto particular, não temos o direito de julgar quem canta ou fala certo ou errado já que dos quatro quantos de Angola, vieram negros escravizados para o Brasil. O cântico que se segue, embora tenha a mesma melodia, possui uma letra diferente na qual se percebe vários significados, um deles como exemplo entrosamento onde Kavungo(Insumbo) pede licença, perdão e etc a Lembá intercedendo por um filho ou mesmo ele perdoando ou dando licença a um filho seu.
Ingê juá Lembá
Ingê juá yayá
Ingejuá Insumbo okê malembê.
Não podemos esquecer que: "Entre o céu e a terra existem inúmeros mistérios que a própria razão desconhece."
Ninguém pode se achar o dono da verdade. Que cada um obedeça a sua Tribo e a sua ancestralidade, respeitando a do próximo. O julgamanto cabe a NZAMBI.
Tata Kimbanda Kia Dihamba Anangê.

A afinidade existente entre Tateto Kaviungo e Kafundeji (Dundum, Dundê, Dundurê, Jambarauê, etc) com Mam'etu Mulengue (Sinhá, Jonjurê, Matamba, Mam'etu Kaiango e etc) dentro do Candomblé de origem Bantu Angola é percebida sensivelmente nas nas cantigas em Português, kimbundu, kikongo, fiote, umbundu etc, como também no dialeto kassanje, ocasião em que se misturam em letra porém com a mesma melodia, servindo dessa forma a ambas Entidades. Sabemos ainda , que dentro da Nação Angola "qualidade de santo", muito em moda hoje em dia, pode ser apenas a região específica do país de Angola onde por questão de dialeto(divisão de uma Língua),como é conhecida a Entidade ou até mesmo pela denominação de um fenômeno de qualquer natureza acontecido em determinada região do País e batizado com aquele nome por nossos ancestrais. Entretanto deixamos bem claro que por questão de lógica, o Inkice será sempre um só recebendo vários adjetivos em decorrência de fatos já explicados acima.
No Kit Livro e Cd "Angola, Nação Mãe"temos uma cantiga para Mamétu Mulenge ria Jonjurê que normalmente seria de Tatetu Kavungo por causa da mesma melodia, mas quando se coloca a palavra Jonjurê (região pertencente a uma província de Angola) a cantiga se aplica mais para Matamba sem contudo perder o elo poderoso com Kavungo.
Cantiga normalmente conhecida para Kavungo:
Dundurê que Sinhá lalê } Bís
Dundurê Maimbanda
Dundê Kongo Serekô (...)
Cantiga para Matamba com a mesma melodia, em função direta com Kavungo, cantada por nossos ancestrais em momentos especiais.
Jonjurê, que Sinhá Lalê
Jonjurê Maimbanda
Dundê Kongo Serekô
Percebe-se então que taxar de errado situações como esta encontradas numa Nação que possui centenas de dialetos provenientes de várias Línguas é uma forma radical de impedir a busca no aprofundamento dos Usos, Costumes e Tradições do Povo Bantu.
Tata Kimbanda Kiá Dihamba Ananguê.

sábado, 22 de janeiro de 2011

MITOS DE NZAZI


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MITOS DE NZAZI 
A  DISPUTA ENTRE NZAZI E O ARCO-IRIS

L’arc-em-ciel et La foudre – pág. 57/58 M3 – Yombe
A disputa entre Nzazi e o Arco-Iris
Mito dos Yombes
Tradução livre do Prof. Dr. Sérgio Paulo Adolfo
Heusch, Lui de. Lê Roi Ivre ou L’origine de l’etat. 

Lês essais CLXXIII, Gallimard, 1972


Um dia, Mbumba, o arco-íris, deixa sua caverna na beira da

 água e sobe ao céu, onde vive Nzazi, o raio. Juntos constroem
 uma cidade e Nzazi que é o chefe do céu, propôs confiar a chefia
 da cidade a Mbumba, mas este não aceitou e volta à terra. Aqui
 chegando, se joga na água, mas duas mulheres que estavam no 
rio pescando, haviam fechado a caverna que servia de morada para
 Mbumba. Mbumba fica muito bravo, e as mulheres tentam matá-lo,
 mas na disputa ele arranca o dedo de uma e assombra a outra em
 forma de uma serpente que deixara a água vermelha, fazendo com
 isso que todas as mulheres se evadissem do local. Após isso, 
Mbumba volta para o céu e lá chegando, percebe que Nzazi teria 
vindo pra terra a fim de matar seis homens. Nzazi não demora a 
voltar e quando retorna saúda Mbumba com um ar zombeteiro. 
Mbumba reconhece que Nzazi é o dono do céu e lhe oferece um
 escravo, mas ajuíza que se Nzazi matá-lo haverá uma grande 
chuva torrencial. Nzazi não leva a sério as palavras de Mbumba
 e esbofeteia o escravo que se põe a chorar.
Mbumba retorna à terra e procura seu amigo Phulu Bunzi que é
 o Senhor da água. Ele pede a Phulu Bunzi que mate Nzazi. 
Phulu Bunzi então sai da água com um grande aparato real
 e convoca Nzazi para um procedimento mágico. Desde que 
Phulu Bunzi saiu da água a terra inundou-se. Phulu Bunzi então
 estabelece uma disputa com o arco-íris e conclui um pacto de
 amizade com Nzazi que volta para o céu.
Após isto feito, Phulu Bunzi espera o Arco-Íris em sua cidade

 e se despede do mesmo num dia de muita chuva, e ao 
mergulhar no rio, que é sua casa, percebe que seu filho está 
morto, mas o Arco-Iris diz a ele que, se o mesmo render-se a
 ele e lhe pagar uma reparação, o menino se salvará.. Phulu
 Bunzi não tendo como cumprir a exigência, decepa a cabeça
 de Mbumba, o Arco-Íris, e manda enterrar seu corpo 
próximo a paliçada e espetar sua cabeça sangrenta no mastro mais alto.
Comentário...
Este mito realça o caráter irrascível de Nzazi, pois sendo
 ele o próprio raio é um elemento altamente temido entre 
os povos tradicionais, que viviam sem proteção contra 
os fenômenos atmosféricos. Além disso, ele é considerado 
em África o justiceiro, porque acreditam que quando uma 
casa é atingida por uma descarga elétrica, é porque o dono
 da casa cometeu alguma falha contra a comunidade.
 Mas por outro lado, o raio é prenúncio de chuva, esta sim 
sempre bem vinda entre os povos agricultores que 
dependem dela para a própria sobrevivência. Vemos neste 
mito, um pacto celebrado entre a chuva, o raio e as águas 
de Phulu Bunzi. Mbumba, o arco íris é morto, sinal de que 
as chuvas vão parar e sua cabeça sangrenta é espetada 
numa paliçada, símbolo das cores do arco-íris. Entre o 
raio –Nzazi – e o arco-íris – Mbumba – há sempre rivalidade,
 porque onde um está o outro não aparece.
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A LUTA ENTRE A MORTE E RAIO
 LE COMBAT DE MORT ET DE FOUDRE
A LUTA ENTRE A MORTE E O RAIO (NZAZI)
Tradução livre do Prof. Dr. Sérgio Paulo Adolfo
Heusch de Luc. Róis nés d’um coeur de vache. 

Lês essais CLXXIII, Gallimard, 1972
A mãe do Raio estava cozinhando feijão quando a
 Morte apareceu e chamou-a ao que ela respondeu
 prontamente. A Morte então defeca sobre uma roca
 e a obriga a comer tudo e proíbe-a de contar aos
 outros o acontecido. O Raio, entretanto, prevenido
 do acontecido, se esconde para surpreender a morte 
na sua próxima visita. Quando a Morte apareceu 
novamente, o Raio bateu nela muito forte, mas não 
acertou e infelizmente o golpe mal dado acertou sua 
mãe, matando-a. Em seguida, a Morte foge para uma 
caverna que o Raio conhecia muito bem. Lá chegando, 
o Raio preparou-se para dar o golpe fatal, mas foi
 impedido por um jato de urina no olho dado por um 
mergulhão, um animal que ficou raivoso pelo clarão 
dos golpes do Raio. A Morte escapa novamente e o 
Raio volta para o céu, deixando a Morte exercer seu 
trabalho livremente na terra. A raiva do Raio em 
relação ao mergulhão é eterna, mas este não precisa 
se preocupar em refugiar-se nos dias de tempestade, 
pois o Raio não chega até as cavernas ou próximo das
 árvores onde ele vive.
Comentário...
Neste mito o raio trava uma batalha de morte com 
a própria morte, mas nenhum dos dois sai vencedor 
numa clara alusão que os elementos da natureza têm
 seu próprio percurso e um depende do outro para a 
sobrevivência de ambos. O Raio, sempre perigoso
 mata a própria mãe sem querer e só não mata a
 morte porque esta se esconde numa caverna, 
local inacessível para o raio. No final da narrativa, 
o Raio volta para o céu, lugar em que vive e que
 não provoca estragos e a morte continua seu caminho.
 Quanto ao mergulhão, o animal que salvou a morte
 do raio continua eternamente inimigo deste e sempre
 que há clarão de raio esconde-se nas cavernas ou
 próximo das árvores onde o raio não alcança.
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Não somos Xenófobos...

Orisá Aganjú


Os mitos o descrevem como “O Gigante entre os Òrìsà. Seria filho de Oro Iná. Divindade, que em algumas regiões, é considerada como uma divindade masculina e em outras, como feminina, e que habita as câmaras de magmas, situadas no interior da crosta terrestre.

Os antigos o descrevem como “O Temível entre todos”.

Divindade de caráter forte, tempestuoso, colérico e belicoso.

As forças da natureza que lhe pertencem são representações de sua tremenda energia, como a potência dos rios que divide territórios, a lava vulcânica que percorre a crosta terrestre, os terremotos e o impulso que faz a Terra girar em torno de seu eixo.

Recebe o título de Òkèrè ao tornar-se esposo de Yemoja.

Aganjú representa os raios solares, Olókun as águas salgadas e Olósa as águas doces, celebram um pacto entre eles, em manter o equilíbrio da atmosfera do planeta, afim de que seja possível o ciclo vital de todos os seres.

Aganjú foi o quarto Aláàfin Óyó, embora existam mitos que o descreve, tendo reinado em Sakí, cidade vizinha de Ìséyìn, noroeste de Òyó.

O reinado de Aganjú foi longo e próspero. Tinha o dom de domar animais selvagens e serpentes venenosas.

Dentro de seu palácio, mantinha um Ekún – Leopardo, seu animal de estimação, sobretudo um símbolo de coragem, que costumava encostar seus pés, como se fosse uma esteira, daí recebendo o epíteto de Ekùn Olóju Iná – Leopardo dos olhos de fogo e Ekún f'eninjú tànná – Leopardo de olhos fulgurantes.


Aganjú é o símbolo de todas as forças terrestres, principalmente o núcleo da terra, o deserto e o vulcão. Ele representa uma força brutal e regeneradora, que é responsável por todas as turbulências cataclísmicas que muda a face da terra. A Lava vulcânica é vista como seu hálito de fogo e seu poder faz a terra girar sobre seu eixo. 

E DE NOVO...

COMO DEVE SE COMPORTAR UM FILHO DE ORISA DENTRO E FORA DA CASA DE SANTO.
  1. AO ENTRAR DESPACHAR A PORTA E AO SAIR TAMBÉM.
  2.  FICAR SENTADO ESFRIANDO O CORPO (SENTADO OU NO FUNDO DO BARRACÃO CASO SE ESTEJA FAZENDO ALGUM RITUAL DENTRO DO BARRACÃO OU NA COZINHA)
  3.  BEBER ÁGUA, TOMAR BANHO, COLOCAR ROUPA DE RAÇÃO OU PANO DA COSTA,BATER CABEÇA NO ÀSE DA CASA(QUARTOS DE SANTO) DEPOIS A NENGWA, A NENGWA NDENGE (MÃE PEQUENA),AO TATA NDENGE (PAI PEQUENO), TROCAR A BENÇAO COM OS IRMÃOS MAIS VELHOS E AOS MAIS NOVOS.
  4.  SE FOR CUIDAR DOS SEUS YGBAS,TOMAR BANHO DE ÀSE E COLOCAR ROUPA DE RAÇÃO (GUARDAR TUDO QUE USAR TAIS COMO BALDE E CABAÇA).E SECAR O BANHEIRO.
  5.  BATER CABEÇA AO YGBA DO NKISE DONO DA CASA ANTES DO SEU.
  6.  LEMBRE-SE AO ENTRAR SE TOMA A BENÇÃO E AO SAIR TAMBÉM.
  7.  NUNCA FALE EM PÉ QUANDO SUA NENGWA OU OS QUE TÊM CARGO QUANDO ESTES ESTIVEREM SENTADOS.
  8.  NUNCA COLOQUE A MÃO NA CINTURA.
  9.  NUNCA FALE PALAVRÕES.
  10.  NUNCA DEIXE SUJO O QUE ESTAVA LIMPO OU DEIXE SUJO O QUE VC PODE LIMPAR.
  11.  NUNCA DEIXAR BEBIDAS VELHAS, CARREGOS DETERIORADOS, EMBALAGEM DE VELAS OU PALITOS DE FOSFOROS RISCADOS (TUDO DEVE SER JOGADO EM SEUS DEVIDOS LUGARES)
  12. CADA UM COM SUA ROUPA DE RAÇÃO OU DE CANDOMBLÉ,TOALHA E SABONETE (VC DEVE TER O QUE É SEU, SE NÃO TEM, PROVIDENCIE! TENHA RESPONSABILIDADE!)
  13. TEM FUNÇÃO PRÉ-DETERMINADA CUMPRA PARA NÃO SER CHAMADO A ATENÇÃO.
  14.  A NENGWA (MÃE) DEVE SER CHAMADA COMO TAL, ASSIM COMO OS DEMAIS CARGOS.
  15. AS CADEIRAS DE ÀSE SÃO PARA OS QUE TÊM CARGO (ALGUMAS SÃO INDIVIDUAIS OU SEJA COMERAM NO CARREGO DA PESSOA).
  16. NUNCA SENTAR NA ASSISTÊNCIA SE TIVER COM ROUPAS DE ÀSE.
  17. NUNCA FUME NA FRENTE DA MÃE DE SANTO OU DOS QUE TEM CARGO.
  18. RESPEITE PARA SER RESPEITADO, SEJA EDUCADO COM TODOS INCLUSIVE COM CLIENTES E ASSOCIADOS.
  19. USOU ALGO DA CASA, REPONHA, LIMPE, LAVE, GUARDE MAS NUNCA SE ESQUEÇA DE PEDIR.
  20. QUEBROU ALGO, ASSUMA,COMPRE E DEVOLVA.
  21. DESEJA CONSELHO OU AJUDA PEÇA COM HUMILDADE E EM PARTICULAR.
  22. TEM DÚVIDA, PERGUNTE AOS MAIS VELHOS PRINCIPALMENTE A NENGWA.
  23. PRECISA DE ALGO OU AJUDA PARA ALGUMA TAREFA PEÇA MAS SEMPRE SEGUIDA DE UM POR FAVOR E NUNCA ESQUEÇA DE DIZER OBRIGADO(A) EM SEU DIALETO.
  24. AS “BAIXAS” DEVEM SER DITAS QUANDO NECESSÁRIO MAS SE POSSÍVEL EM PARTICULAR. (TOME COMO ENSINAMENTO E NÃO COMO UMA AGRESSÃO)
  25. SUA CONDUTA FORA DA CASA DE SANTO PODE REFLETIR NA CASA DE ÀSE POR TANTO SEJA UM FILHO DE NKISE E NÃO O OPOSTO.
  26. PRIMEIRO O SEU NKISE DEPOIS VC.(POIS ELES RECEBEM DEPOIS NOS DEVOLVEM)
  27. CUMPRA OS PRECEITOS A RISCA E SE FALHAR SEU NKISE PODE SE QUIZILAR OU ATÉ LHE VIRAR AS COSTAS.
  28. A CASA DE SANTO DEVE SER RESPEITADA, AMADA, CUIDADA, CONSERVADA, AJUDADA POIS É O LOCAL QUE SEUS ORISAS ESTÃO.
  29. CUMPRIR OS HORARIOS DETERMINADOS.
  30. TER PRESSA EM CHEGAR A SUA CASA DE SANTO E NÃO PARA IR EMBORA.
  31. ESTEJA SEMPRE PRONTO A ATENDER AOS BAKISE E SUA NENGWA,POIS OS MESMOS ESTÃO PRONTOS PARA VC.
  32. TER CUIDADO AO ACENDER VELAS OU CIGARROS (FOGO É PERIGOSO)
  33. NÃO TENHA VERGONHA DE SUA FÉ,TENHA VERGONHA DE NÃO SER DIGNO DE TER O AMOR DOS ORISAS,DEMONSTRE A TODOS O QUE É SUA RELIGIÃO E O QUE ELA TRAZ DE POSITIVO EM SUA VIDA.

Religiões em Angola

As religiões em Angola

Américo Kwononoca

A introdução da doutrina cristã no que é o actual espaço que se chama Angola, teve início com a «evangelização sistemática a partir de 1490, quando os missionários católicos chegaram às "novas terras" e baptizaram sucessivamente o governador do Soyo, em Abril de 1491 e Nzinga Nkhuvu, rei do Congo, em Maio desse mesmo ano». 1 A implantação da Igreja Católica nas áreas do Congo do Ndongo e Matamba
estendeu-se ao extremo leste, nordeste e sudeste até ao século XX. A igreja cristã terá iniciado a sua actividade em Angola na década de 1850, com maior incidência na parte norte e centro. Tanto a igreja católica como a protestante comportam várias denominações e congregações.
A partir do ano de 1980, assistiu-se a entrada em Angola de expatriados de várias nacionalidades oriundos sobretudo da África Ocidental, região de populações maioritariamente muçulmanos (aderentes da religião Islâmica).
Como consequência, deu a implantação dessa religião primeiro em Lunada, estendendo-se actualmente a todo País.
Assim, em Angola regista-se actualmente a presença das religiões cristãs (Católicos e Protestantes) e Islâmica como universais.
O aparecimento de uma variedade de organizações religiosas esteve na base de diferentes interpretações dos textos bíblicos. Assistiu-se ao surgimento do movimento dos antonianos em Mbanza Congo e, mais tarde, como consequência lógica, ao tokoismo no século XX, uma das mais importantes igrejas nacionais, fundada pelo Simão Gonçalves Toko.
Uma outra religião sincrética que tem emergido e encontrado um lugar de destaque na sociedade angolana é o Kimbanguismo.
Decorrente desse fenómeno, verifica-se hoje uma grande proliferação de organizações religiosas que podem ser classificadas em: a) igrejas espiritualistas, b) igrejas dissidentes da doutrina cristã e c) igrejas não cristãs.
Algumas dessas igrejas, surgiram como resposta a situação colonial tendo durante esse período, sobrevivido na clandestinidade, enquanto que outras foram introduzidas pelas comunidades angolanas que a partir de 1974 regressaram ao país.
2  É o monoteísmo actualmente predominante que justifica a crença na existência de um Ser Poderoso e Supremo designado Nzambi (entre Bakongo, Tucokwê e ambundu), Klunga (entre os Ngangela, Kwanyama, Axindonga e Helelo), e Suku ( entre os ovimbundu e Nyaneka Khumbi). Essa entidade suprema considerada como criadora e supervisora do universo, é coadjuvada, segundo os povos bantu, por outros deuses menores mas também poderosos, através dos quais de chega a ela. É o caso dos deuses da fecundidade, da caça, das chuvas, da sorte, da protecção, do gado, entre outros.
Para os Kung denominados pejorativamente pelos seus vizinhos de kamusekele (apreciadores da carne de porco espinho) ou Mukwankhala (comedores de caranguejos) e pelos europeus de bushman/bosquimanos, esse ser Supremo é conhecido como N!dii que significa céu nas línguas de kalahari central, Ndali ou Hishe. Acreditam ter sido afecto significativamente a sua actividade diária, apesar de intervir e ser invocado nos momentos de infortúnio, seca ou outras calamidades.
Os povos bantu crêem na existência de dois mundos, nomeadamente o visível, cujo relacionamento e contacto se efectuam através de rituais, preces e outras cerimónias dedicadas aos antepassados, por intermédio da invocação das forças dos espíritos que coabitam com os homens. Este facto é indicador de uma subordinação ou dependência total dos vivos em relação os espíritos ancestrais.
A inacessibilidade dessa entidade suprema é ultrapassada através do culto aos antepassados, que intercedem junto de Nzambi, Kalunga ou Suku que está no topo das alturas, para que haja chuva, caça, protecção, fecundidade, fertilidade ou punição para os transgressores.
O fundamento da ancestrologia enquanto ramo de antropologia que se ocupa do estudo dos cultos e preces dedicados aos antepassados, tem essa dimensão cultural consubstanciada na interacção entre viventes e antepassados. De recordar que em geral, os bantu na sua idiossincrasia acreditam que as pessoas não morrem mas que transladam deste mundo para o outro com uma dimensão transcendental, onde usufruem das mesmas benesses como comida, roupa entre outras regalias que tinham antes da "mudanças". Este facto determina a realização de cerimónia de ofertas de bens e de veneração aos defuntos.
Regra geral, nas comunidades rurais, antes de se beber qualquer líquido entorna-se um pouco no chão como expressão de gratidão aos defuntos.
Entre os Bakongo e os Tucokue, as cerimónias presididas por entidades tradicionais eleita e reconhecida pelo povo (e sobretudo pelos anciãos), é comum "dar-se de beber primeiro aos antepassados através da aspersão da bebida a partir da boca para a área da cerimónia. Os Bakongos fazem também o nkunda ou três salvas de palma para pedir aos antepassados a autorização para qualquer evento. Em Mbanza Kongo, o sacerdote, profere as seguintes palavras dirigidas aos ankhulu (ancestrais) «Todos os Bakongo vieram daqui, porque deixaste algo importante. Estamos aqui perante entidades para pedir que a festa se realize na tranquilidade dos Nkhulu e não haja incidentes.
Por isso trouxemos maruvu para vos oferecer».
A veneração dos espíritos dos antepassados, expressa nos cultos ritos e nas ofertas feitas pelos vivos, constitui, segundo a tradição, um requisito para a harmonização equilíbrio e tranquilidade comunitários. Caso contrário, a infertilidade a mortandade, as doenças e outros infortúnios que ocorrem na comunidade serão atribuídos aos antepassados como punição pela desobediência.
É justamente por isso, na maioria das comunidades rurais, se acredita que não há doença ou morte que não tenha como causadores, os antepassados "desprezados e não venerados, os quais através dos feiticeiros" 4 tidos como seus emissores, sancionam ou punem os transgressores.
Porém as pessoas têm o direito de consultar os adivinhos para descobrir as causas dos infortúnios para o efeito essa entidades de dimensão sócio-religiosa não comum, manuseia os objectos que se guardam num cesto (os tucokwe designam-no ngombo ya cisuka) fazendo preces aos espíritos ancestrais para darem resposta ao consultante assim este é orientado no sentido de juntar uma série de bens para ser tratado pelo Kimbanda 5. Nos casos das chamadas "doenças espirituais como por exemplo, as pessoas possuídas, mahamba (espíritos dos antepassados cokwe), ou kalundu (espíritos dos antepassados Ambundu), a resposta dos adivinhos tem sido quase a mesma: "os teus antepassados encarnaram em ti para satisfazeres os teus desejos e as tuas falas inconscientes e todas manifestações que decorrem da tua doença é uma emanação deles" 6. Entre essas comunidades históricas (cokwe e Kimbundu), o kimbanda realiza um conjunto de tratamentos com preces ao som de música para afugentar os mahamba ou os kalundú. Neste acto, a pessoa possuída entra em transe (xinguilamento) até ser "liberta", mas devendo continuar a manter um série de obrigações, que entre as quais as ofertas de comida, bebidas e outros bens aos defuntos, num altar montado com figurinhas que representam os antepassados diariamente invocados e venerados.
As cerimónias de raiz tradicional, como componentes da vida sócio-económicas
e cultural, integram e consolidam as instituições e eventos tidos como sagrados. Nas zonas onde a actividade principal é a agricultura, cerimónias rituais são realizadas aquando das primeiras chuvas e nas primeiras colheitas; se for uma sociedade de caçadores, o espírito do animal representa e integra a cerimónia dos caçadores que pode ocorrer na primeira caça dos iniciados ou nas grandes caçadas colectivas, sobretudo entre os Tucokue e os Ngangela.
Na zona piscatória da Ilha de Luanda, a cerimónia da Kyanda, considerada como a padroeira do mar ou "Espírito do Mar", envolve não só a comunidade que se dedica a essa actividade, mas também outras individualidades. Os anciões e um grupo de mulheres vestidas à "besangana" de cor vermelha, vão à beira-mar levando consigo bebidas, alimentos, flores e dinheiro para atirarem ao mar como reconhecimento da prosperidade comunitária a ela devida, e também como uma petição para que as kalemas (ondas altas) não invadam e destruam os bens da comunidade. Em torno desse ritual, crê-se que a bebida serve para embriagar a Kyanda a qual quando estiver sob efeitos etílicos, dormirá profundamente originando a acalmia das ondas e a aproximação do peixe à superfície.
Entre os Nyaneka Humbi, a tradição é praticada e transmitida através de uma instituição conhecida como "Boi Sagrado" realizado anualmente a qual conclui o "cortejo do boi", e é tida como reminiscência dos antigos criadores e pastores. A finalidade desse ritual é inovar os espíritos desses antepassados para proporcionarem a prosperidade e a protecção do gado. Para esse grupo etnolinguístico, os rituais e as crenças em torno da fecundidade têm lugar com a confecção da kikondi (boneca de fibras vegetais) que são
entregues às raparigas casadoiras (logo que apresentam o primeiro fluxo menstrual) as quais as guardarão até gerarem o primeiro filho. Segundo a tradição, a procriação depende em geral desse amuleto, sem o qual a continuidade da vida seria impossível.
A autoridade máxima Nyaneka Humbi é o Ohamba a quem são atribuídos poderes extra humanos. Antes do início das chuvas ele vai junto de uma perda sagrada e anuncia o Ongonjdi (proibição do cultivo da terra depois da primeira chuva, tida como sagrada) à população. Em seguida, o Ohamba realiza um ritual que consiste em mandar cair a chuva, travar ou controlar outros fenómenos atmosféricos. Este ritual é conhecido entre os Mungambwe, sob grupo Nhaneka Humbi, como opululo".

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

COSMOGONIA, FEITIÇARIA E MAGIA ENTRE OS BAKONGOS

 COSMOGONIA, FEITIÇARIA E MAGIA ENTRE OS BAKONGOS

No momento, utilizaremos a palavra Kongo no que se refere as populações bantu chamadas Bakongo (pl.) originárias do antigo reino do Kongo que compreende os dois Congos (ex Belga e Francês), assim como o país de Angola e a atual Cabinda. Sendo assim, os cultos sincréticos afro-americanos que serão analisados trazem emblematicamente em seus nomes os termos de Angola, do Congo ou mesmo de Cabinda, Mayombe ou qualquer outra região do ex-reino do congo, que serão os nomes diferenciadores e que os distinguirão, como cultos de origem bantu, em contraposição aos cultos de origem yorubana.
A cosmogonia kongo tal como as cosmogonias yoruba e voduns repousa sobre a crença num Deus único (Nzambi mpongo) criador do céu, das estrelas, da lua, do sol e da terra. Ele criou também a natureza e suas forças, os animais, o homem e a mulher. Deus ensinou aos últimos o segredo dos minkissi, dos makutos( amuletos)  e do nganga. Feito isso, retirou-se para o céu levando consigo seu lado negativo, Lugombé, facilmente identificado como o diabo, mas que na verdade é apenas a polaridade opositora para que seja mantido o equilíbrio entre o mal e o bem.
Como nas demais cosmogonias, o Deus único deixou entidades intermediárias para velarem pela sua criação. No nosso caso, os equivalentes aos orixás são os Kimbungulu(pl. De mpongo). Entretanto, as relações entre os homens e os kimpungulu não se dão da mesma maneira que seus vizinhos yorubanos, pois entre os congos, o pilar central do fenômeno religioso se constrói numa relação fortemente impregnada de magia que repousa sobre os ancestrais e sobre lugares específicos como os rios, cascatas, fontes, etc. que são habitadas pelos gênios ou espíritos próximos dos ancestrais, colocados a serviço da comunidade, dentro de uma metodologia bem codificada.
É necessário compreendermos que a religião bantu, tal como a dos yorubás e voduns não tem muita coisa a ver com nosso conceito de religião. As religiões africanas deverão ser vistas como um conjunto de práticas rituais e crenças que lhe permitem ao indivíduo esperar que para além da morte estarão perpetuados os laços com os ancestrais que foram elevados à condição de divindades. Nesse sentido, os ancestrais, as divindades e os espíritos são os guias destinados a ajudar o homem na sua caminhada pela terra. A grande preocupação das crenças africanas é concreta e pragmática : é a preservção da família e do clan.
Entretanto, se essas forças podem ser usadas para o bem e podem também ser usadas para fazer o mal. Todas as forças colocadas em circulação pelo culto congo tem como prioridade a magia sobre a religião.
Dentro desse universo mágico religioso há papéis muito bem definidos. Há os iniciadores, os intermediários, os destinatários. O fundamento do sistema se apóia sobre uma especialização das funções, seja no domínio privado ou público. Esta especialização também se estende aos intermediários espirituais que serão utlizados, pois podem utilizar-se das forças, dos espíritos, dos fantasmas, etc. Assim, toda ação de magia terá a intervinência de um sacerdote (feitiçeiro ou mágico do bem), uma entidade intermediária (ancestral ou espírito local) e um destinatário, a coletividade ou o indivíduo.
No domínio público, muitas vezes, envia-se um malefício para o clan ou o grupo social pelas mãos do próprio chefe da vila ou dos anciãos. Para isso eles se utilizam das energias dos ancestrais, no sentido de proporcionarem uma lição àquelas pessoas, e não propriamente no sentido de prejudicá-las. Para tal, concorrem os serviços dos bisimbi (pl. De simbi) que são os espíritos locais benevolentes, com tarefas particulares.
No sentido privado, os atores são também especialistas. Para enviar uma magia negra o feiticeiro ou Ndoki coloca a seu serviço um fantasma (nkuyu) que geralmente é uma alma errante de um antigo feiticeiro ou um membro da tribo que por não ter uma vida respeitável ou por ter se suicidado, não se encontra no mundo dos ancestres. Opondo-se ao feiticeiro posiciona-se o Nganga que vai intervir para realizar os desejos de seu cliente que está sendo prejudicado pelo Ndoki. O nganga vai construir um Nkissi e nele transmitir sua magia. O nkissi constitue-se numa estatueta antropomorfe ou zoomorfe carregada de materias mágicos constituidos de matériais minerais,  vegetais e animais carregados de força mágica. Esta estatueta chama-se bilongo.
Na sociedade congo, certos acontecimentos como por exemplo, a morte de uma criança nunca são vistos como coisas naturais, mas sim pelo efeito de feitiçaria  resultado da ação de um feiticeiro ou de um ancestral descontente com os seus.
O feiticeiro é dotado de um orgão especial chamado kundu que tem a capacidade de comer a alma de outras pessoas. Qualquer individuo pode ter esse poder e nem saber disso. Nem todos os nganga conseguem ver esse fenômeno nas pessoas, apenas o nganga advinhador é capaz disso, chamado de Nganga Ngombo. Os individuos suspeitos passam por uma prova, ou seja tomam determinadas substâncias que farão com ele será condenado ou absolvido dessa acusação.
No exílio nas américas vemos que a população congo rompeu com parte dessa tradição, pois os laços com os clãs e linhagens foram quebrados. Assim sendo, a magia religiosa ligado aos clãs e linhagens foram totalmente esquecidas sobrevivendo apenas a magia religiosa ligada ao indivíduo.
Como resultado temos duas consequência principais : em certos casos a religiosidade bantu sincretizou-se com outras formas de magia africana como a yoruba, adotando seus deuses (orixás) e mantendo alguma lembrança de seu culto original. Como efeito, os kipungulu, que tem como similares os orixás e os voduns, deixaram de ser venerados. Como consequência, a religião dá lugar a magia e a feitiçaria.
Os nganga passam a ser consultados apenas para resolver os problemas sentimentais, financeiros, de saúde, ou por outros assuntos do cotidiano.
Igualmente, por esta vulnerabilidade, que o culto de Angola, no Brasil, agregou em seu panteão os ameríndios, dando nascimento ao candomblé de Caboclo.
O Palo cubano permanece a forma menos alterada do sincretismo de origem congo na américa latina. Entretanto, não se podemos perder as referências ancestrais de linhagem e do espaço africano no culto original do Congo. Assim, o Palo terá também a tendência de se transformar  numa magia do privado em detrimento do coletivo. O nganga em Cuba prepara o recipiente contendo as matérias constitutivas da magia, chamado de prenda e coloca pequenos pedaços de pau que acabaram dando nome ao culto.
O termo nganga atribuido ao sacerdote em África tomou lugar no Mayombe de Nganga judeu quando trabalha com magia negra e Nganga cristão quando se trata de magia branca. A magia branca e a negra sao manipulados por todos os paleros, mas dificilmente um palero admite que trabalha com magia negra.
Em cuba, o termo nkissi seguidamente traduzido pelo termo Inquice é utilizado não mais para definir o recipiente ou o feitiço mas por assimilação ao NKissi (recipiente) bilongo (carrego mágico que contêm os espíritos) a palavra Nkissi acabou por definir os espíritos ou entidades, ou seja, os Kimpungulu propriamente ditos.
Os principais sincretismos encontrados da cultura congo nas américas são o Palo Mayombe de cuba, o candomblé angola do Brasil, assim como o candomblé de caboclo, que recebe os ameríndios, o culto Obeah das antilhas britânicas, o Hoodoo ou Conjure dos Estados Unidos da América, o Kumina jamaicano.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Só lembrando ...

"É muito censurado mas acontece freqüentemente que com aspecto de devoção e piedade adoçamos o próprio demônio." 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

ATÉ QUANDO VAMOS PERMITIR ISTO???


Lei Contra o Candomblé é Aprovada em Piracicaba

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Câmara Municipal de Piraciba/SP, por unanimidade, com o apoio dos vereadores dos seguintes partidos: PT, PDT, PP, PPS, PTB,PR,  PMDB, PRB, PSDB, aprovou em 7/10, o PL 202/2010 do vereador Laércio Trevisan (PR).


Comentários em Piracicaba, informam que o referido PL. é parte de um MOVIMENTO chamado "ALIANÇA PARA A SUPREMACIA CRISTÃ", que tem por objetivo levar este projeto a outras cidades do Estado de São Paulo, depois, independente de quem seja eleito, encaminhar para a Câmara dos Deputados, através de deputados federais dos partidos envolvidos. Estes deputados, no momento, são mantidos no anonimato.


O  O referido pela agurda sanção ou veto do Sr. Prefeito Municipal Barjas Negri, por favor mandem e-mail, telefonen para o prefeito/
secretário de governo e  demais autoridades solicitando o veto ao PL. tendo em vista que o referido PL. entre outras coisas, atenta contra a liberdade religiosa e fomenta o racismo.


- PREFEITO  BARJAS NEGRI - Fone: (19) 3403-1040 E-mail: bnegri@piracicaba.sp.gov.br
- VICE-PREFEITO SÉRGIO DIAS PACHECO -  Fone: (19) 3403-1080 viceprefeito@piracicaba.sp. gov.br /spacheco@piracicaba.sp.gov.br
- CHEFE DE GABINETE   ISAURA F. B. MAZZUTTI /  Fone: (19) 3403-1050/imazzutti@piracicaba.sp.gov.br
- SECRETÁRIO MUNICIPAL DE GOVERNO  JOSÉ ANTONIO DE GODOY /  Fone: (19) 3403-1055 jagodoy@piracicaba.sp.gov.br




1- Integra do PL. 202/2010;
2- E depois, Nomes, fones, e-mails do vereadores de piracicaba:


1- Íntegra do PL. 202/2010: PROJETO DE LEI Nº 202/10 - Proíbe o uso e o sacrifício de animais em práticas de rituais religiosos no Município de Piracicaba e dá outras providências.
Art. 1º Fica proibido o sacrifício de animais em práticas de rituais religiosos no Município de Piracicaba.


Art. 2º O descumprimento do disposto na presente Lei ensejará ao infrator, a multa de R$ 2.000,00 (dois mil reais) dobrado a cada
reincidência.


Parágrafo único A multa a que se refere o caput deste artigo será reajustada, anualmente, com base no índice do INPC – IBGE , adotada pelo Poder Executivo através de Lei.


Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


Justificativa


Primeiramente cabe ressaltar que independente de credo religioso e o respeito aos costumes de crença, ou seja, barbáreis como sacrifício de animais em rituais religiosos são inconcebíveis, e contraria a nossa Lei maior a qual é a garantia de vida e bons tratos para com os animais .


Precisamos sim, que as pessoas de bem, que gostam de animais, defenda–os, em principal em leis municipais, estaduais e federal
através de seus legisladores.


Por outro lado, compete aos municípios de acordo com a - Constituição Federal – Art. 30 – I – Legislar sobre assuntos de interesse local.


Também cabe ressaltar que, o município pode legislar em assuntos de seu próprio interesse local de acordo com C.F Art. 30 – I e respaldado na lei orgânica do município de Piracicaba – Artigo 25 XXII .


Isto posto, felizmente a consciência de que a proteção aos animais também é uma obrigação do município.
Inobstante em Piracicaba através da Lei n.º 6647/09 já proíbe a instalação de circos que contenha animais, sendo um grande avanço em defesa dos animais.


Somos sabedores que há pessoas que realizam o sacrifício de animais em cultos religiosos, e isso é inaceitável, e deve ser observada com atenção por parte não só desta Casa Legislativa, mas também por todos os municípios .


Assim pelo alcance do Art. 225 d 1º, VII da C.F para a proteção dos animais, o interesse humano social, apresento este Projeto de Lei .


No ensejo, que o mesmo seja aprovado por unanimidade pelos pares, e que caminhemos em direção do bem, da proteção dos animais e os clamores da população e das ONGs de proteção com os animais.


Sala de Reuniões, 21 de junho de 2010.
(a) Laércio Trevisan Júnior



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